08 março 2015

Escolhi partir. Sem contrarregra. Sem tape.





Nunca acreditei nos amores de cinema. Não é feminismo ou dor de cotovelo, acredite. Tá, quem sabe um pouco da última. Quem sabe no dia em que os roteiristas conseguirem fazer algo que não envolva uma mocinha ingênua que larga tudo por amor e um cara perfeito que corre para o aeroporto ao seu encontro, eu comece a dar crédito pra essa  coisa hollywodiana. Caso goste desses tipos de filmes, não me entenda mal, não é nada pessoal. Nada contra o Timberlake em "Amizade Colorida" (nada contra o Timberlake em lugar nenhum, nem aqui em casa), mas é que a vida real é muito mais complexa do que 2 horas mais os créditos.
Eu, por exemplo, escolhi partir. Você vai me chamar de covarde e talvez eu seja, desperdicei a chance mais próxima de ser feliz que já tive. Mas se é que posso dizer algo em minha defesa, fica difícil ter coragem sem os olhos azuis da Cameron. Acontece que eu não me arrependi logo em seguida ( talvez um pouco, tá bom, bastante), desci do táxi, voltei correndo e me joguei nos braços dele enquanto ele me suspendia no ar e me beijava docemente. Não pense isso, por favor, nem Nicholas Sparks seria tão previsível. Olha, eu nem tava de táxi. Na verdade eu estava a pé, estava chuvendo e eu tinha acabado de comprar um pão doce. Viu só? Nada romântico ou digno de Oscar. Eu escolhi partir na padaria, e não era aquelas super docerias americanas ou o Central Perk, era dessas comuns mesmo que o dono tá ali desde que você nasceu e que com R$1,00 você compra só 4 pães massentos.
Eu escolhi partir quando me deparei num sábado à noite de chinelo e moleton indo comprar pão doce e você não estava lá pra fazer a piada sem graça com o sonho, mas que eu sempre rio. Eu escolhi partir quando entendi que sua vida seguia um ritmo diferente da minha e que por vezes você se negava por mim. Você nunca me disse isso, mas também nem precisava. No começo você se saiu bem, juro que não percebia que aquilo tudo era um fardo, mas com o tempo eu passei a ver nos seus olhos toda vez que eu não podia estar presente em algum momento importante, quando eu não conseguia me enturmar com seus amigos (e olha, eu me esforçava), quando você deixava de viver pra viver a minha vida. Essa coisa de se anular não tava dando certo e foi naquela padaria quando eu peguei o troco que percebi que não podia fazer isso com você e não podia te deixar fazer isso consigo mesmo.
Você podia dizer o que fosse, mas nem precisava te encontrar na fila do pão pra saber que você tinha me encontrado e tava infeliz pra cacete. Você sumia tanto de si que eu quase tinha que me esforçar pra te encontrar. Talvez você não entenda agora e talvez nem daqui a 3 meses. Mas é que por sorte a gente se encontrou, o azar foi não ter sido no mesmo espaço-tempo.
E agora? Eu tô sofrendo feito mula. Eu tô chorando todo dia, eu lembro o tempo inteiro. Você fez o imenso favor de estampar seu rosto, seu perfume e sua risada nos meus hemisférios cerebrais. Mas ao contrário dos filmes românticos eu não posso ficar uma semana trancada no quarto chorando, abraçando sua camisa e cantando "Say something". Eu tenho que viver, não é verdade? E não é a história de superação bonita que a menina dá a volta por cima, ainda vai demorar muito pra isso acontecer. Prevejo várias recaídas, e quem sabe numa dessas você me segura e não me deixa ir.
Eu termino aqui, sem adornamento com clichês porque na vida real não tem promessas, não tem juras, na vida real, não tem pausa pra refazer a cena, nem contrarregra pra ajudar. Na vida real a gente tem que viver. E é isso que eu vou ter que fazer, viver sem você, desejando ardentemente que a nossa história fosse escrita pelo Sparks e que no final você aparecesse batendo na minha porta e dizendo o quanto eu fui burra. Mas não vai acontecer, não é mesmo? Não vai acontecer.

2 comentários:

  1. Realmente, você arrasa demais nos seus textos ♥
    Eu super concordo com o que escreveu, ainda mais nisso de amores de cinema e tal, a vida é muito mais que 2 horas e alguns creditos!! Me inspiro muito em seus textos, parabéns!!
    Beijinhos,Mundo Da Laís

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  2. Obrigada, flor. Sempre bom ler comentários assim. :)

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