15 novembro 2012

Armadura

A armadura começa a pesar, sua mente saturada já suplica que ela pare. Assim o faz.
Ela procura um lugar seguro, onde possa estar desprotegida sem ser atacada; parece tão difícil achar tal lugar, para todos os lados que ela olhe tem alguém pronto à julgar. Mas ela precisa parar, antes que seja tarde, antes que seu corpo desfaleça e ela não consiga se recompor.
Pedaços da armadura começam a se deteriorar pelo caminho, ela está vulnerável e se desespera em pensar que pode não conseguir. Mas de longe avista uma certa gruta, mal iluminada, suja, mas que lhe parece bem melhor do que o lado de fora.
Ao entrar não aguenta com o próprio peso que carrega, lança-se ao chão e as lágrimas saem sem que ela faça qualquer força, sem que ela precise piscar, sem que ela precise pensar. Ela está se desvaziando, e permitindo se desvaziar. Cada lágrima se refere à uma palavra, um fato, uma dor... Lavando a alma, alguns diriam; se renovando, ela afirmaria.
É chegada a hora de retirar o que resta de sua armadura, sentada em um canto qualquer da gruta ela recolhe os pedaços de aço que tanto a protegeram. O resto da armadura está manchado, furado e um tanto desgastado; isso acontece quando somos fortes por muito tempo. A cada peça que a menina pegava, uma lembrança lhe vinha a mente, um alguém, um lugar... Era como se a armadura estivesse viva, e como uma fagulha entranhada a forçasse perceber por quantas coisas ela teve que passar.
Ela se lembrou como um relance que nem sempre costumava ser assim, antigamente ela se deixava levar, ela estava desprotegida em um mundo tão conhecido que lhe chegava a dar medo; sabiam como a atingir e assim o faziam. Era como se as lágrimas dela fossem a melhor recompensa para eles, como se seu sofrer os regojiza-se. Julgada, ferida, lançada à suas próprias atitudes mal interpretadas...
A menina teve que se posicionar, teve que se proteger, em um ato de coragem e ao mesmo tempo medo do desconhecido, ela colocou sua armadura, a partir de agora seria forte para qualquer situação, palavras não mais a machucariam, situações não mais a confrontariam, e teria uma atitude certa, na hora certa e para a pessoa certa. Ela se protegeria para ser feliz, para viver, para gozar daquilo que muitos experimentavam e para ela ainda era algo utópico. Mas sabia que para isso teria que ignorar muitas coisas que a faziam mal, que a faziam desmoronar. Ser forte! Essa era a nova regra do jogo e ela estava armada para jogar.
Ao lembrar de suas decisões a menina já nem fazia esforço para enxugar suas lágrimas, sabia que aquilo era típico e necessário.
A noite caiu, ela já foi forte, já foi guerreira, já vivia... agora era só uma menina, uma gruta e o soluçar de um choro abafado pelos dias. Não a julgue, hoje foi só o dia de limpar a armadura, pela manhã as lágrimas secarão e ela retornará ao jogo. A armadura já estará limpa, já estará viva.

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