24 janeiro 2013

Eu aceito



Então era isso. Após subir aqueles três degraus sua vida mudaria, ou será que já havia mudado quando ela escolheu o vestido? Não a repreenda, ela não tinha dúvida, pelo contrário, aquela era uma das maiores certezas que um dia já teve em sua vida. Era ele. E aquilo soava de uma forma tão certa e segura que até mesmo ela chegava a ter medo. Que engraçado, outrora tinha medo de suas inseguranças e hoje, de suas certezas. O chofer interrompeu seus devaneios. Ela saiu do carro, um pálio vermelho que ganhou ao se formar no ensino médio, sua mãe bem que queria alugar uma limousine  daquelas que deixam os vizinhos com inveja e que as pessoas querem tirar foto. Mas aquilo era muito pra ela. 
Um pé por vez. Lembra de sorrir. E não chora, você não está com rímel aprova d'água  Disse a si mesma. Com passos demorados, pela ocasião e pelo salto que torturava seus pés, ela se encaminhou lentamente até a grande porta de madeira. Elevou os olhos e ficou fascinada com a arquitetura do lugar, uma catedral inteira de arte barroca. Sem delongas, ela já ouvia a marcha nupcial sendo tocada ao fundo. Frio na barriga, mãos suando e as pálpebras trêmulas, droga isso sempre acontecia quando ela estava nervosa e o tic das pálpebras já haviam lhe custado muitas fotos, principalmente as da formatura. Mas por que pensar nisso agora? Ela se repreendeu. Respira fundo, pensa em nada. Pare já com seus monólogos. Sorria.
Ela entrou. Ela entrou e sorriu. Não foi forçado pela ocasião, antes que você pense tal coisa. Foi natural, foi espontâneo, foi bonito. De longe, ela avistava um grande tapete vermelho, um pastor bem conhecido, pessoas amigas, pessoas queridas e ele. Ele ficava muito bem de gravata, ela tinha a impressão de já ter dito isso em algum outro momento. 
Estava tudo perfeito, tudo lindo. A decoração suave com tulipas e tecidos finos. Obra da sua mãe, só podia. Os convidados pareciam estar em êxtase, mas... havia algo, algo que ela não compreendia. Por que todos a olhavam? Por que não olhar para o homem que estava na ponta do altar? Vestido nenhum poderia se comparar com a feição que o rosto daquele rapaz mostrava. "Olhem pra ele!" Ela queria gritar, mas não o fez. Além dela, apenas seu pai parecia notá-lo, com olhar de desespero e parecia também tardar no andar, para a entrega definitiva jamais chegar. Ela andou, sorriu e continuou fitando os olhos de seu amado. 
Altar. Seu pai sussurrou algo no ouvido de seu noivo que o fez arregalar os olhos. É, seu pai. Imaginou por um momento quanto aquilo tudo deveria ser difícil pra ele, entregar a outro homem a menininha que ele já tanto embalou para dormir.
O pastor deu uma reflexão, daquelas clichês. Na verdade, tudo ali estava bem clichê. Os votos foram feitos, e a pergunta esperada foi feita. Cabia à ela a resposta. Ela já sabia, óbvio. Mas quis se delongar, não por charme, mas por necessidade. Eu não sei se você vai entender, não sei se já sentiu algo assim. Mas enquanto ela segurava a mão dele, sentia que estava segurando seu próprio mundo. Ela o olhou e teve um "flash-back" do futuro, isso é possível?
Ela sabia a resposta e tinha plena certeza disso. Ela tinha certeza pois sabia que quando ela chorasse, ele lhe daria um colo. Quando ela sorrisse, ele seria o motivo. Quando ela pensasse em desistir, ele seria a base. Quando ela estivesse de TPM, ele traria chocolate. Quando ela estivesse confusa, ele lhe mostraria o caminho. Quando ela por um descuido caísse, ele traria mertiolate. Quando ela ficasse irritada, ele lhe faria cócegas .Quando ela estivesse chata, ele a mandaria calar a boca. Quando fosse noite fria, ele lhe faria um chocolate quente. Quando fosse noite de calor, ele a jogaria na piscina de madrugada. Quando ela estivesse cansada, ele lhe faria massagem. Quando ela visse uma barata, faria charme, só pra ele virar seu super-herói. Quando ela estivesse velhinha, ele a ouviria reclamar da bola que as crianças jogavam em seu jardim. Certeza tinha, de que todas as noites ele tocaria pra ela, aquela canção, a canção deles. Ela tinha certeza porque sabia que em uma terça-feira de agosto, as 16:00h ele a ligaria pra dizer "eu te amo", mesmo sendo um dia comum. Ela tinha aquela certeza, que só se tem uma vez na vida. Sei que você deve estar a se perguntar como ela teve tal certeza, mas a verdade é que ela mesma não sabia. Sabe essas coisas que as pessoas falam sobre o amor? De borboletas no estômago, de necessidade, de intensidade ? É tudo cena. Quando ele vem, ele vem suave, ele vem a seu modo. Ele vem com gostinho de feriado e de café quente. Vem com vontade de rede e cochilo a tarde. Ela não sabe ao certo quando ou como soube, mas ela soube de alguma forma. Ela tinha certeza porque sabia que quando ela o amou, ele já tinha a amado. Ela tinha certeza, porque via nos olhos dele a paz que ela precisava, e era só disso que ela precisava.
Ela respirou fundo, fitou aqueles olhos amendoados que a faziam perder o chão, sorriu e disse:" Eu aceito."

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