15 janeiro 2013

Você, de novo.


Você chegou. Bateu na porta sem avisar. Típico de você, cujo nome deveria ser surpresa. Você poderia ao menos ter deixado um recado na secretária eletrônica, sei que ainda tem o meu número. Droga, ainda estou com a maquiagem borrada de ontem e com meu pijama estampado. Definitivamente, você deveria ter ligado.
Atendi a porta com um sorriso torto, com um misto de mal-humor matinal e felicidade ao te ver, rever. Entra, senta aí. Tira o casaco, eu guardo. Vou fazer um café, daqueles bem forte, do jeito que você gosta, quer dizer, ainda gosta? Tanto faz, precisava de uma desculpa pra ir escovar os dentes e lavar o rosto, me tornar mais apresentável.
Voltei à sala com o café e o mesmo pijama estampado. Parece que as coisas aqui não mudaram tanto assim. Mas e aí? E você? Como anda? O que tem feito? Já conseguiu cumprir sua lista de metas de vida? Você começou a falar e em meio a goles no café e versos ditos, eu pude perceber que você não mudou, nem um pouco. Você conseguiu um emprego, mudou de cidade, mudou a rotina, talvez tenha perdido as manias de sempre, mas continuava aí. De alguma forma, era como se eu estivesse conversando com você assim como há três anos atrás. Isso me fez sorrir. Sorri porque aqui dentro as coisas também permaneceram, tudo no mesmo lugar, do jeito que você deixou. Tive mudanças, e quantas... Estou no último ano da faculdade. Terminei o inglês, entrei em uma acadêmia de dança, até comecei a praticar esportes. Fiz um livro que nunca será publicado e fiz um intercâmbio pra Austrália. Lembra da viagem à Austrália? É, eu fui... mas sem você.
Você começou a falar da sua viagem, da sua nova rotina. Estava tão empolgado que seria crueldade interrompê-lo. Contou os detalhes, os mais sórdidos, mais engraçados, mais felizes e mais difíceis. Como se estivesse guardando tudo por três anos... Alguns fatos, talvez a maioria, eu já sabia. Ainda nos correspondíamos por email. Mas era diferente, e por mais que eu já soubesse poderia ficar por horas ali ouvindo, porque agora você estava ali. Não era um telefone ou uma tela, era você. Aquilo tudo parecia confirmar, que vivíamos em mundos paralelos. Como foi mesmo que nos achamos? Deve ter sido na intercessão desses dois.
 Alguns meses antes, quando imaginava a despedida ou quando alguns dos nossos amigos perguntavam como seria, me convencia, de um jeito muito egoísta, que algo surpreendente aconteceria antes. Um furacão. Uma proposta irrecusável mais perto. Uma ordem da família. Mas no fundo, sempre soube que seu talento era grande demais para aquela pequena cidade.
Eu te admirava muito. Você sempre surpreendia todos ao redor com seus planos para o futuro. Para você, com certeza, não existiam limites. Espero que ainda seja essa a palavra grifada no seu dicionário.
Já se passaram 3 horas, preciso tomar banho. Você espera? Tudo bem, pode ligar a TV, está dando " A Origem" no Telecine. Subi as escadas, pensando em como as odiava, elas me cansavam ou eu que era sedentária. Banho rápido. Cabelo rápido. Rápido.
Desci as escadas e o filme estava ainda chegando a metade, acabamos de vê-lo e eu sabia que já seria a hora de se despedir. Não seria egoísta, você deveria ter muitos afazeres na cidade. Te levei até a porta e disse um tchau prolongado, um tchau com dúvidas. Eu queria saber se lá no seu novo mundo você foi você. Se você sorria como fazia comigo e se as horas passavam tão devagar como passavam aqui. Eu não perguntei. Te deixei ir e me deixei ir no seu abraço. Vê se aparece, vê se volta. Eu não vou mesmo a lugar algum. Senti sua falta. Foi bom ver você, de novo.

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