04 março 2013

O fim de um não-começo


Ela abriu a porta e foi. Com a mão na maçaneta certificou-se de que você não notaria a saída repentina de cena, tola, é claro que não notaria. Estava afoito demais em seus compromissos e em seu ego inflamado.
Você nem ao menos deve tê-la visto sair, ou lido o bilhete que ela deixou. Deixou um bilhete com marcas, borrões no espelho do banheiro, lágrimas de madrugada e passos arrastados no carpete da sala.
Mas como perceber que ela saiu, se você nem ao menos havia notado sua presença? Se você nem ao menos tinha a visto entrar e se acomodar. Se acomodar nessa sala confortável que você criou, nesse ambiente bonito que você fez. Isso foi crueldade, seu moço. Poetas antigos já diziam que a dúvida corrói o homem, e foi o que você fez. Fez da sua certeza uma dúvida, mas uma dúvida que não era sua.
Você sempre se achou demais para ela. E não importava o quanto você dizia que era ela diferente, suas atitudes demonstravam que ela era mais uma dentre as iguais. Mas você se enganou, moço, ela nunca foi mais uma. Ela não precisava de você, só achava que precisava.
Ela fechou a porta sabendo que talvez estivesse fechando a última chance de ser feliz. Porque essas coisas não acontecem todo dia, em qualquer esquina, ou naquele cybercafé onde vocês se conheceram. Mas ela teve que fechar a porta, teve que se despedir de tudo que a fazia sorrir, porque ela sorria sozinha. Teve que deixar pra trás todas os seus CDs que ela tanto gostava e levar consigo a escova de dente que agora teria outra morada.
Você sempre soube disso né moço? Sempre soube que pra ela não era um jogo, onde ganhava quem resistisse mais. Ela não queria resistir, e você sabia disso. Sabia, mas fazia questão de não ligar. Mas ao contrário do que você sempre achou ela é boa demais. Ela é grande demais. Ela não aguentou ficar por muito tempo.
Ela não sabia o que você pretendia fazer e o que aquilo tudo representava nessa sua mente doentia, a única coisa que ela tinha certeza era de que havia cansado desse jogo de palavras cruzadas. Ela cansou de segurar o mundo inteiro nas mãos e das dúvidas alimentadas.
Ela saiu daquele apartamento pequeno que era quase um aconchego, pensando que talvez voltasse lá. Mas se um dia ela voltasse, as coisas deveriam estar no lugar. Não deveriam ter meias, cuecas e palavras jogadas no ar. Um dia talvez arrependido e tentando se declarar você a implorasse pra ser só sua,talvez.
Mesmo com a esperança de que isso acontecesse, ela obrigou-se a parar de pensar. Ela respirou fundo e achou melhor dizer a si mesma que acabava ali, acabava ali tudo que nunca tinha começado.

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