27 fevereiro 2014

Uma carta para depois II


São 4 da manhã e eu precisava te escrever. Aliás, foi com você que aprendi a escrever. Eu precisava te dizer, mesmo sem esperar algum resultado, que eu sinto sua falta.
Hoje, naquela boate, minha ficha caiu. Quando nada fazia mais sentido, quando todos meus amigos estavam lá e eu só conseguia lembrar que você não estava. Quando todas aquelas meninas dançavam pra mim, mas nenhuma delas era você, elas não tinham aquele seu sorriso que tinha o poder de me desconstruir e construir quando bem entendesse. Quando a vodka não fazia mais efeito e a cada gole eu me sentia mais vazio. A música parecia não ter letra, eram zumbidos que me lembravam a sua voz, tomei mais um copo de vodka, estava tendo alucinações e se elas continuassem a ter o seu timbre, eu tomaria quantos copos fossem preciso. Qualquer dose de você, hoje, me seria o bastante. Minha ficha caiu exatamente quando no beijo com uma menina que eu nem sei o nome, eu lembrei de você. Lembrei de como você mordia meu lábio inferior e me beijava sorrindo depois.
A multidão eram apenas figuras soltas e eu estava cheio, cheio de falta. Saí dali e tentei te ligar enquanto fazia sinal para o táxi. Mas ligar pra Londres não é tão fácil como um interurbano. Nessa hora a operadora trai, o fuso horário trai e até o taxista trai. Me deixou a 3 quarteirões de distância da minha casa. Minha casa. Dói lembrar que um dia já foi nossa, dói pensar que eu vou entrar no quarto e não te ver com os óculos baixados pendendo no nariz lendo mais um dos seus livros de cabeceira. É meu amor, você escolheu esse dia pra me invadir, sem avisar.
Talvez você diga: E daí? E eu te respondo: Eu não sei.
Só sei que precisava te falar do meu arrependimento, falar que sinto falta do seu cheiro no meu travesseiro, da calcinha no banheiro, da aliança no dedo. Eu sinto falta das brigas, dos ciumes, das gargalhadas ridículas, das noites vendo jogo e você torcendo como se estivesse entendendo algo. Me perdoa meu amor, me perdoa por não ter entendido os sinais. Você deixou rastros por toda a casa, no assoalho, no chuveiro, na copa da cozinha e em cada lugar em que eu te vi chorar. Me perdoa, porque tolo, não entendi que o que você mais queria era me ter contigo. Eu fui embora e não fiz questão de te levar, te troquei por nada, por noites viradas, por outros rostos e por mais um copo de vodka.
Pedi uma segunda chance seria ridículo, egoísta, mesquinho. Eu vi o quanto você sofreu, eu te vi sair por aquela porta e eu não fiz nada, eu não te dei um abraço, eu não perguntei sobre o seu dia, eu sempre fui um perfeito idiota. Te arranquei do meu mundo e me arranquei do seu sem nem imaginar o mal que estava fazendo, para nós dois.
A verdade, é que agora você tem sua vida. Você a construiu sem mim, seguiu seus passos, trilhou seu caminho, fez sua faculdade, seu intercâmbio, passou para uma grande academia de artes. Você realizou todos os sonhos que eu nunca sonhei com você, que eu nunca apoiei.
Talvez você ainda pergunte: E daí? E eu continuo a te responder: Eu não sei. Só te peço que se puder, se não for pedir muito, não me mate dentro de ti. Leva um pouco de mim onde você for e não esqueça de ler esta carta, que escrevi para depois.

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