25 outubro 2014

Do amor que eu não soube dar

Oi. Será que posso entrar? Quem sabe me acomodar um pouco? Nem precisa mudar as coisas do lugar. Será que tem espaço pra mim no seu novo mundo ou no seu novo flat? Tudo bem, não precisa responder, talvez eu esteja indo rápido demais, ou não, quem sabe. É que depois que você foi embora eu perdi um pouco a noção de espaço e tempo, e posso jurar que esse foi o dezembro mais longo que já vivi. Ah, o cachorro sente sua falta. Depois que o sol se põe ele corre em direção à porta, na esperança de ver você entrar. Eu também. O pernil esse ano não estava tão ruim, parece que minha mãe acertou dessa vez. Ela perguntou por você, sabia? Todos perguntaram. Eu disse que estava bem, sem nem imaginar por onde você andava. No dia 25 acordei me arrumando para ir a casa dos seus pais, mas quando punha as meias me dei conta de que não precisava mais viajar tantos quilômetros para compensar a véspera que a filha única não passou com eles. Não precisava, embora eu quisesse. Dessa vez para compensar a véspera que ela não passou comigo.
E eu entendi a resposta que você me deu quando perguntei o por quê você estava indo. "Você sabe". E olha amor, agora eu sei. Eu sei que não te deixei viver, sei que te fiz dependente de mim sem você querer. Te fiz refém das minhas escolhas, sem ao menos te perguntar o que você achava. Eu te levei, te carreguei sem perguntar se você olhava na mesma direção. Eu nunca perguntava, não é mesmo? Eu tinha tantas verdades, que acabei me afundando nelas. Eu sei também que eu era rude, exigente. Eu nunca tive filtros pra você, talvez o excesso de intimidade tenha corrompido minha empatia. E eu achava que você não se importava com as broncas, com as repreensões, eu fui burro, muito burro. Você não precisava de um pai, precisava de um amor. E eu aposto que hoje você deve estar deixando aquela louça do jantar pra amanhã, com preguiça e sem remorso. Aposto também que anda esbarrando nas coisas do seu jeito estabanada, murmurando por isso, mas aliviada por eu não estar lá pra te condenar.
Eu não reparava no seu rosto de ciúmes e nos seus olhos marejados quando eu tecia elogios para uma outra garota. Ah, quem dera fosse daqueles ciúmes bestas que toda mulher acaba tendo por insegurança ou "faro feminino", mas era um ciúmes com inveja. Porque eu tecia elogios ao mundo, menos a você. A você críticas, e ao mundo amor. Você era forte afinal, eu pensava. Você já sabia tudo que eu achava sobre você, eu acreditava. Mas você não precisava de alguém que medisse sua força e muito menos de alguém cujas palavras outrora ditas parecessem vazias e ocas frente as atitudes do presente. Você precisava de um amor, um amor que eu não soube ser nem soube dar.
Eu vim aqui hoje porque faltam poucos dias para o ano novo e eu não consigo nem imaginar como vai ser sem você. E vim de vermelho, que é pra dar sorte. Vim te pedir perdão, vim prometer não esperar ouvir novamente um "Você sabe", ver a porta bater, sentir sua falta no chuveiro e no lado vazio da cama, pra prestar atenção. Vim te convidar pra virar o ano comigo, na praia, no club ou no sofá. Pra fazer rituais idiotas e brindar com um champagne que a gente nem gosta de tomar. Vim te convidar pra tentar, de novo, e se errar, mais uma vez. Até que se esgotem as viradas. Eu vim aqui, pra te dizer que quebrando as correntes por aí, nesse ano novo eu não quero nada de novo, eu só quero você.

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