02 novembro 2014

Eu estava bem sem você. Ou não tão bem assim.

"Eu estava bem sem você". Dizia para mim mesma enquanto tentava olhar pela vidraça do ônibus ou me distrair com qualquer conversa aleatória de algum passageiro. Eu tentava, inutilmente, porque parecia que todas as coisas me faziam lembrar, desde as conversas sobre política entre o cobrador e um passageiro que acabara de ler uma notícia no jornal até a barba do cara do banco da frente. Mas olha, eu realmente deveria estar bem sem você. Não sei se melhor, não me arrisquei em mensurar isso. Mas é que antes eu estava segura, eu só precisava depender de mim, minha mente girava em torno de coisas que eu podia facilmente controlar, ou ao menos tentar. Acontece que com você é diferente, não tem como te controlar nem exercer qualquer poder de persuasão. Esse lance de coerção feminina, realmente não se aplica ao seu ego. Veja só, eu não consigo nem me controlar quando estou contigo, não tem como reter esse sentimento inundante que vem à tona toda vez que você sorri, aliás,  que sorriso! Eu juro que de todos os sorrisos que eu já vi na vida, o seu continua sendo o meu preferido.
Uns meses antes de esbarrar com você por aí, eu me preocupava com as provas da faculdade, em não perder a hora para o trabalho, com as contas do cartão de crédito, o feijão que eu deixei fora da geladeira e em levar o cachorro ao veterinário. Agora eu me pego pensando quando você vai ligar, se por acaso nessa sua rotina doida você tira um tempo pra pensar em mim, se você leu minha mensagem no whatsapp, se vai querer me ver no próximo fim de semana...Antes eu sabia o tempo exato de deixar o lasanha no microondas, agora eu sempre esqueço porque me pego debruçada sobre a bancada rindo de algum vídeo idiota que você me mandou. Por Deus! Antes eu só lia os textos xerocados da faculdade e dia desses olhei para a cômoda e vi um volume imenso de "O mundo de Sofia". Olha bem, você tá entendendo meu espanto? Eu levantava da cama num salto e colocava a primeira roupa, aquele suéter capenga do dia que a gente se conheceu. Coringa, sempre meu. Agora até blush eu ando passando. Há uns meses nesse mesmo episódio, de um ônibus circular que vai dar a volta ao mundo antes de me levar ao trabalho, eu estaria ouvindo Guns no Ipod ou qualquer porcaria no rádio do celular, eu estaria até puxando assunto com a pessoa do banco ao lado. Mas agora eu tô aqui, pensando em você.
Meu bem, não foi a lasanha queimada, não foi o blush caro ou o livro de 560 páginas, foi o movimento. Você chegou e me tirou do eixo, tirou tudo do lugar, me bagunçou e nessa confusão eu nem sei onde deixei as chaves de mim mesma. Entende que eu tava acostumada com o habitual, com o cômodo, com mundo que eu criei só pra mim. Você simplesmente chegou e desmistificou todos os rituais mágicos que eu criei para me esconder, todas as armaduras que coloquei sobre mim pra não ter que me abrir mais com ninguém. Para não ter que me machucar mais com ninguém. Sabe qual foi o problema, meu bem? Ou quem sabe, a solução? Você chegou e me mostrou o amor. Você mostrou para esse coração machucado que tinha jeito pra ele. Você tirou os remendos e jurou ser o remédio. Você tirou meus pontos finais e acrescentou umas vírgulas pra eu poder olhar pra você, escrever sobre você, amar você.
Meu ponto. 2 horas de viagem e eu nem sei mais se estava tão bem assim sem você. Não sei se essa era uma certeza real ou algo que eu quis acreditar. Eu só sei que você chegou e me virou do avesso, e olha, agora eu tô torcendo para que o avesso seja meu lado certo.

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