Não sei se você notou o momento exato que minh’alma
encontrou a tua. Ela, danada que só, quis logo se misturar, dissolver-se em si
e em ti. Quis minh’alma, desnuda, se abrir e adentrar nessa brecha bandida onde
você se fez notar. Eu tentei aquietá-la, sussurrei para que não fizesse
barulho. Que fosse com calma, porque você, menina-moça, parecia não estar acostumada
com esbarrões assim. Que fazem as almas se misturarem, contemplarem, completarem.
E se, por ventura, eu
lhe dissesse que nem minh’alma é dessas? Você, em surto ou por súbito, ousaria
acreditar-me? Nas andaças que tivemos, eu muitas vezes a fiz se calar. Não
havia lugares seguros onde repousar e, minh’alma, mesmo que aventureira e gostando
tanto de conhecer outros lugares e sorrisos, se acanhava, ao entender que mais
uma vez não tinha achado seu lar.
Mas quando você chegou, morena, naquele 25 de março,
ensolarado, onde as ruas zuniam e os carros pareciam voar. Na turbulência
caótica da cidade, numa banca de jornal qualquer, eu não pude conter. Que mal
fiz, eu? Se minh’alma de gente grande quis morar em menina pequena, de calçado 36,
como o teu?
Minh'alma. Mais sua, do que minha.
Mentiria se não dissesse que pela minha cabeça passou os
pessimismos diários e sádicos que sempre ousam nos aprisionar – e rotular. E se
a casa não for boa? E se inquilino já tiver? Se a vizinhança for barulhenta
demais e a moça dos lábios bonitos simplesmente não me quiser? Mas minh’alma,
aventureira, derradeira, inconstante, irrepreensível, entusiasmada e tão
espontânea que nem parece vir de mim, sujeito pacato, que costuma olhar o mundo
pelos aros grossos dos óculos de ler. Ela, danada que só, se envolveu. Bateu na
porta, te chamou pra um, dois, três cafés e um show. E, mesmo sua alma com
tantas reservas e “me-disses”, não foi suficiente para a fazer parar.
Entenda, amor, nossas almas se encontraram antes mesmo de
nós. Elas se reconheceram, antes mesmos de darmos os nós. Elas foram, antes de
sermos. Ela se entreolharam antes de nos entre olharmos. Elas se uniram, e pra nós nem deram o direito de escolha.
Caramba hein.. Gostei muito desse último parágrafo!!!
ResponderExcluir