12 maio 2016

De amores que não sabem amar


Não dormi, preferi ficar te olhando. É que a constelação de pintas nas suas costas me encanta e a sua calma sempre me acalmou. Enquanto te olhava e as luzes da noite da cidade lá fora adentravam o flat, eu pensava em nós e no que de fato estamos fazendo.
Eu sei que pela manhã você vai acordar mais cedo do que eu pra cortar a cidade e ir ao trabalho, vai deixar o café pronto na cafeteira e me deixar um bilhete de bom dia. Eu guardo todos os bilhetes - todos os dias - ou pelo menos guardava. É que talvez eu nem o leia amanhã e quem sabe eu também não tome o café. É que essa sua forma de me iludir e me comprar com gestos baratos e corriqueiros não me encanta mais. Esses seus artifícios para se fazer presente quando a ausência é a única coisa que tenho de ti. É que a gente sabe, você sempre foi mais do mundo do que meu.
Parece que só somos um em quatro paredes, sem barulho de buzina, sem o trânsito, sem os esbarrões, sem as decisões no escritório, sem as festas de família, sem essa insanidade - necessária - que é a vida. Veja bem, nesse tempo - que eu julgo ser 1 ano e você a 1ª noite - você nunca me apresentou aos seus amigos. Me dê razão, as coisas não andam tão bem, ao menos pra mim.


Eu posso ter curtido isso por um tempo, esse jogo descompromissado de quem pouco quer quando na verdade quer demais, mas talvez eu não tenha mais idade pra isso. Talvez eu tenha entendido que intimidade é dividir a vida e não só o corpo. Eu não quero alguém que seja comigo na cama, nas conversas filosóficas pós-sexo, na mesa ou no bilhete de bom dia pela manhã. Eu quero alguém que sente comigo e me pergunte do dia. Quero alguém pra contar a grosseria que o motorista fez pela manhã, a música que ouvi na rádio, falar do trânsito que me atrasou. Quero chegar em casa cansada e não ser ouvida. Isso. Não ser ouvida. Porque a maior prova de amor (ou qualquer coisa assim) talvez seja aqueles olhos que pouco querem saber da história, mas permanecem ali. Quero alguém que conheça meus defeitos, que tenha todos os motivos para ir embora, mas decida ficar. Alguém que divida um mundo, onde ceder é um ato de amor e não a única coisa que se sabe sobre ele. Onde os sorrisos sejam maiores que as lágrimas e o desespero de não sermos até a 00:00h não exista. Eu quero o conforto das diferenças que se unem, não as que brigam a todo momento. Eu quero saúde! E que venha não só numa taça de vinho a dois. Quero saúde no brinde da vida. Uma vida que vá pela manhã, mas que no lugar do café pronto e do bilhete, deixe a alma compartilhada.
Eu não sei se você está me entendendo ou se tá achando tudo um percalço sem nó, mas eu resolvi te deixar, antes que eu me acostumasse a caminhar só. Foi por cansaço. Eu cansei de esperar pela próxima vez, cansei de racionalizar meus choros, meus desconfortos, me forçando acreditar que nunca mais aconteceria. Eu cansei de fingir pra mim mesma que isso daria certo e que o amor ultrapassa tudo. É que ao contrário dessa máxima falado em todos os filmes de romance, eu aprendi que nem todo amor sabe amar. A começar pelo meu.

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