30 novembro 2012

Xícara de café



Entra meu bem, senta no sofá e toma uma xícara de café. Conte-me como foi seu dia, qual a melodia que tocou no seu carro e qual o novo processo do escritório. Fale-me um pouco de você, não precisa citar a noite passada, jogue-a no mar do esquecimento. O ontem passou e passou rápido, hoje somos só nós dois e essa vontade incontrolável de resolver as coisas aqui dentro.
Pode tirar o sapato, fique à vontade. A casa é sua, você já sabe, nem sei por que ainda faz todo esse charme. Demore para tomar seu café, parece que assim que ele acabar você partirá. Eu não queria lhe dizer, mas acho que você está deslumbrante hoje; gravatas lhe caem tão bem. Fique mais um pouco, demore-se na sala de estar. Quer que eu ligue a TV? Está passando aquele programa de pesquisadores que gostamos de assistir. Eu confesso que não gostava desse programa, mas você me fez descobrir tantas coisas, gostar de tantas outras que assistir histórias gregas agora faz todo sentido.
Fiz aquele bolo de cenoura que você adora, só pra constar tive que olhar a receita na internet. Hoje estou com a minha melhor roupa, vesti o meu melhor sorriso e estou usando aquele perfume que você me deu mês passado; é que eu queria que fosse especial, eu queria que fosse bom.
Enquanto você toma seu café eu gostaria de lhe contar que não teve um segundo em que não pensei na gente, nós dois, ontem. Eu sei que prometi não falar disso, droga...eu havia mesmo prometido. Mas é mais forte do que eu, as coisas se confundem e você conhece bem esse meu jeito tão particular de querer resolver tudo, sem delongas e sem demora.
Só que têm coisas que não são resolvidas apenas com o meu querer. Palavras lançadas não têm volta, não elas nunca voltam. Poderíamos pular esta parte e fugir para onde rimos disso tudo, mas aconteceu o que eu previa, o café acabou e antes mesmo de eu ter a oportunidade de lhe oferecer um outro você disse que tinha que ir  fazer sei lá o que, com não sei quem em lugar nenhum. Você deveria melhorar suas desculpas. 
Agora você está aí, calçou os sapatos e bateu a porta. Eu nem ao menos tive a oportunidade de pedir-lhe desculpa, perdão, ou seja lá o que se pede em situações assim.
Antes que você bata a porta do carro, olha pra mim e acha essa coisa que eu perdi, me mostra o caminho de volta, faz eu voltar pra mim, faz eu voltar pra você. Faz alguma coisa, é isso que eu queria lhe dizer.
Seu carro está virando a esquina, o vejo acenando para o velhinho que sempre está lá, com aquele mesmo chapéu. Antes de virar a esquina, antes de ir para a outra rua, sair da estrada, entrar em casa, lembra que eu estou aqui, na mesma soleira, no mesmo lugar, com o seu perfume, com a mesma xícara de café.

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