01 janeiro 2013

Aeroporto



Com uma briga interna, assim começou o dia.
Levantei da cama arrastada, um pouco zonza e com uma terrível ressaca de lágrimas. Meu corretivo e meu pó compacto teriam muito trabalho aquela manhã. Inserida na minha rotina, fiz as mesmas coisas de praxe e confesso que desvirei o porta-retrato com a nossa foto que estava há meses de cabeça pra baixo_meu pequeno ato infantil e inútil pra tentar não lembrar de você, mas como fazer isso meu bem, se tudo aqui tem o seu cheiro?_  e fiquei ali por alguns minutos, relembrando como era bom ser nós, e não só eu.
Na cozinha, o café amargo desceu arranhando pela garganta, desde que você se foi tenho tomado umas meia dúzia de cafés ruins por dia, muito pra quem nunca gostou de café.
Fui ao trabalho, ocupei minha mente, entreguei relatórios, corrigi planilhas, chequei mensagens e quando estava terminando uma análise de vendas o descanso de tela do meu computador velho me fez lembrar você. Não, não era nossa foto. Era nada, e isso me fez lembrar o que somos agora, nada. Fiquei ali por alguns segundos, eu e minha dor, minha pequena grande dor.
Hora do almoço, a caminho do aeroporto eu pensei mil vezes em mudar de ideia. O errado nunca me pareceu tão certo, e o conflito interno matinal virara vespertino.
Ao chegar no aeroporto me lembrei daqueles filmes clichês de comédia romântica que sempre víamos juntos no Tele Cine, em que sempre tem um homem desesperado correndo atrás do voo do amada que está prestes a sair, mas aquele pensamento logo foi embora. Entenda, filmes têm finais felizes e o final que eu via para nós dois não era tão feliz assim.
Lá estava eu, de novo, pensando em nosso fim. Mas vá, não me julgue. Todos os pensamentos que prendi, toda dor que abafei por tanto tempo na esperança de ficar melhor, agora vinha à tona e eu nada podia fazer para impedi-la de se exteriorizar.
De longe avistei um homem de estatura mediana, um pouco desproporcional e com um andar curioso. Era você. Eu o reconheceria em qualquer lugar, em qualquer tempo. Clichê demais, meloso demais, pessoal demais. Chega de pensar.
Você me disse um " oi" arrastado e eu respondi com um sorriso de lado. Nós dois não queríamos falar sobre os fatos inegáveis. O desgaste do relacionamento e o fim inevitável era algo suportável. Mas a distância, não tínhamos tanta certeza se conseguiríamos suportar.
Você não levava tanta bagagem, esse seu jeito despreocupado que eu sempre odiei. Queria brigar com você por aquilo, mas não queria ocupar nosso curto tempo com minhas bobagens. Você disse algumas palavras, tentou alguma piada e eu fingi a indiferença. Éramos péssimos atores, e sabíamos disso. Sim, nós sabíamos.
Pra mim passara segundos, mas na verdade, já havia se passado uma hora. Isso sempre acontecia quando estávamos juntos, você conseguia fazer com que eu me perdesse no tempo e assim se sucedeu mais uma vez, mesmo estando ali, interpretando papeis manchados para nenhum plateia.
O tempo esgotara. Seu grupo já havia se aproximado e eu tinha que voltar ao trabalho. Naquele clima de despedida, de "adeus" com vontade de "até logo". Naquele instante de medo, de insegurança, você me abraçou forte e sussurrou o que eu não queria, mas precisava ouvir:" Eu te amo."
Não vai. Eu te perdoo mais uma vez. Não vai, eu tô aqui. Não vai, eu desvirei nossa foto. Por favor meu bem, não vai porque eu ainda te amo. Mas se for, me leva. Me leva no seu coração,  no seu abraço, no seu toque. Me leva junto contigo, eu prometo não fazer barulho, não fazer bagunça. Só me leva, mesmo que eu não possa ir.
Era tudo que eu deveria ter falado. Mas as lágrimas foram mais rápidas e só pensei em limpar o rímel que estava borrado. E agora, e nós? Eu não sei. Ao te ver partindo, parte de mim foi junto. E eu não sabia viver pela metade.
Lentamente me dirigi até o carro, teria que ficar no trabalho até depois da hora pelo atraso. Droga de rotina. Droga de carro. Droga de despedida. Droga de café. Droga de aeroporto.

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