15 fevereiro 2013

O que traz a quarta de cinzas


Enquanto todos foram ao mar, eu fui lá para o alto da serra me refugiar. Peguei uma estrada reta, coloquei em uma estação de rádio qualquer e nem me preocupei se iria gostar do top 10, meus antigos Cds  de MPB eram previsíveis demais, veremos o que o acaso e o locutor têm a me oferecer.
Um chalé pequeno, daqueles que te faz querer brincar de boneca, cheiro de móveis antigos e um tapete empoeirado. Larguei as malas que se resumiam a moletons no carpete da sala e fui até a janela da cozinha, não era uma das vistas mais bonitas. Haviam apenas montanhas e neblina, mas eu precisava me certificar de que estava longe o suficiente, para poder me encontrar.
Dias de folia muito bem aproveitados. Eu precisava dar um tempo. Um tempo de tudo, um tempo de todo mundo. Me isolar pra vê se minha bagunça interna aceitava uma visita. Ela aceitou, me convidou para um chá, me deixou arrumar, troquei os móveis e certezas de lugar.
Cinco dias de reencontro, fazer nada me fez pensar em tudo. Talvez seja o clima da serra e a garoa que nos deixam assim. Encolhida em um velho sofá, reli todas as minhas histórias, lembrei de tudo que vivi. Foi como um flash-back. Repensar conceitos, rever atitudes. Me reencontrar, me reinventar.
Quarta de cinzas, estrada novamente. Um adeus rápido ao chalé e um ajeitada no suéter. O que traz essa quarta-feira de cinzas, não são cinzas, não é pó. Ela inverteu as circunstâncias, as cinzas ficaram nos dias de fantasias e agora só restam alegrias. 
Deixei lá naquele chalé tudo que fazia mal, tudo que desgastava, tudo que machucava, tudo que feria e principalmente o que não acrescentava. Deixei meu orgulho, deixei as expectativas, deixei a velha vida... Lá dentro eu tranquei pessoas, lembranças, pensamentos, sonhos inúteis. Eu deixei lá até você, e dessa vez eu tranquei bem, pra você não ter oportunidade de me fazer uma visita surpresa.
Esta quarta de cinzas não traz cinzas, meu bem, ela está trazendo paz, paz para mim e para outrem. Então vem cá que depois das serpentinas, é agora que começa minha folia.
Há tantas histórias para serem lidas, para serem lindas. Que das cinzas renasçam as coisas boas, os encontros bons, os domingos saborosos, os cafés fortes e as poesias prolongadas. Que nas cinzas fique o capítulo interminável e renasça o novo livro tão almejado.
Eu vou fazer da minha quarta carnaval, pegar essas cinzas, jogar nesse céu azul e deixar logo virar confete.

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