28 maio 2013

Confissão

_ Seu padre, eu pequei e vim me confessar.
_ Diga-me o que te aflinge, jovem.
_ Seu padre, eu trai.
_ Traiu? A quem?
_ A mim mesma. Eu pequei por amar.
_ Mas veja só, isso não é pecado. E tão pouco uma traição a si mesma.
_ Mas Seu padre, vê se me entende, eu não podia.
_ Oras! E por que não podia?
_ Porque eu tenho um ego. Eu tenho algo aqui dentro de mim que quer a todo instante me proteger. Eu tenho isso forte, tenho um pouco do ego e do medo, e de tudo isso junto.
_ Não seja tão rígida consigo mesma. Não julgue tudo por meia dúzia de experiências, acaso esse sujeito lhe fez algum mal?
_ Sim, padre! Um mal horrível!
_ E o que pode ter feito tal moço, de tão horrendo assim pra ti?
`_ Ele me invadiu. Invadiu meu pensamento, meu sorriso, meus sonhos. Ele está ocupando um lugar aqui dentro e eu não o convidei pra entrar.
_ Veja pequena, isso é amor. E só o fato de pensar sobre isso, já transforma a invasão em uma legalidade.
_Então, amor é pecado?
_ Mas que heresia dissestes agora! Amor é sentimento puro, desses que invade mesmo, invade sem a gente querer, invade sem a gente perceber. Na distração surge tudo e em um estalo, alguém vira seu mundo.
_ E o que eu faço?
_Sua confissão já tem dono, e você bateu na porta errada.
_ Mas como assim? Não é isso que o Senhor faz? Ouve as confissões?
_ Seu real pecado não foi confessado, o deixou subentendido. Tomou-se de orgulho e inflou ego, impedindo até mesmo o mais puro sentimento que Deus pode nos dar.
 Então vá, se isso a confortar, leve consigo um pouco de "aves-marias" e um tanto de coragem.  Não renegue uma coisa assim, coisas desse tipo, não acontecem sempre por aí. Então vai, vai que sua confissão, já tem dono.


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