02 maio 2013

Sem título


Veja só que vou lhe contar uma história, antes que você pense que isso aqui se trata de um romance a la Nicholas Sparks, sinto lhe informar que não é ficção e talvez nunca seja escrita. Eu vou juntar o que pude saber, porque as verdadeiras histórias de amor bastam por si só, elas morrem com seus amantes. El elas também não precisam de título.
As expectativas para o final de semana pareciam borbulhar, não era pelos motivos comuns que pairavam na cabeça do resto do mundo. Não era o Natal nem todo o espírito natalino, para ela era muito mais.
Talvez aquele final de semana representasse o começo do resto da sua vida e isso de certa forma a deixava eufórica. Durante todo o ano não sabia ao certo o que esperar desse dia, mas pensava nele constantemente.
 Pensava, pois contemplar a chegada é sempre melhor que lamentar a ausência. Ausência não, deixe-me corrigir. Porque ele estava lá, mesmo que longe e a alguns tantos quilômetros de distância, ele estava lá. E era algo tão perceptível que parecia até mesmo surreal, ele estava lá no sorriso que ela esboçava, na força que a encorajava, no olhar de afeto, no sofá da sala, na sala de cinema. Por favor, não seja tolo, não era como uma alucinação. É que dizem por aí que as pessoas que amamos mesmo quando se vão, deixam rastros, rastros visíveis e reconhecíveis por qualquer um.  E cantaram uma vez os irmãos:"E até quem me vê lendo o jornal, na fila do pão, sabe que eu te encontrei." 
Quem a via na rotina, na correria, na esquina, na faculdade, na cozinha ou na praça; talvez nem adivinhasse o quão difícil estava sendo aquele ano.  Ninguém sabe  o que é saudade até lidar com a distância. Não sejamos hipócritas, saudade bonita só vive em poesia. Saudade é um bicho estranho, saudade tortura e se você não der um jeito nessa moléstia, ela vai te despedaçando aos poucos.
Ele se isolou. Foi para um lugar qualquer perto do mar. Levou na mala duas calças jeans, um par de meias e seus sonhos. Ela ficou. Ficou com o mundo, com o tudo, com a controvérsia. Mas veja só que curioso, quem a conhecia, jurava que ela estava bem. Eu não tinha muita certeza disso não, seu moço. As pessoas às vezes escondem mil lágrimas em um único sorriso, e ela bem que parecia ser desse tipo. Mas os boatos que rolam por aí é que ela fez da saudade confete, que quando fechava os olhos pequenos podia até mesmo sentir o cheiro daquele que se foi. Coisa doida essa de gente apaixonada, eles arrumam até antídoto pra mal de dor.
25 de dezembro.
As guirlandas já estavam nas portas, podia se ouvir o sino de algumas igrejas e crianças brincando com seus novos presentes. Presente. Ela esboçou um sorriso torto., daqueles típicos de devaneios amorosos. O sofá já parecia pequeno e por algum motivo as horas se arrastavam, sei lá qual é o mal desses relógios que teimam em demorar sempre que estamos com pressa ou aguardando algo importante. Eu não sei se eu deveria te contar, mas numa das nossas conversas ela disse que teve medo. Medo porque nunca soube muito bem o que esperar daquele dia, afinal, o que se deve esperar quando se está esperando? Ela chegou até a ensaiar versos no espelho para dizer, não que as palavras decoradas fossem seu forte, mas ela precisava dizer coisas. Você leu bem? Ela precisava, sentia que se não dissesse aquilo poderia esmagá-la.
Ela queria dizer que já começou a sentir saudade no momento do “adeus”, que não teve um dia se quer que não tivesse pensado nele e em que cargas d’gua andava sua vida. Ela precisava dizer que ele sempre esteve aqui, mesmo longe, porque ele já era parte dela. Que tudo aconteceu suave, que ele despertou o melhor que ela poderia ser. Meu bem, ela só queria dizer que sabia que teria que passar de novo por isso, porque os sonhos dele eram grandes. E ela não se importava, porque gostava de sonhar junto. Ela só queria dizer que ele a fez entender todos os clichês desses filmes de comédia romântica que ela sempre assistia. Que ele a amou com atitudes e palavras e que ela o amava, como nunca um dia ousaria amar alguém.
Campainha. De repente os 2 metros entre o sofá e a porta pareciam uma maratona. Enquanto ela os percorria ia esquecendo gradativamente tudo o que outrora acreditava que precisava falar.
Ela abriu a porta e o encontrou o sorriso que era seu mundo. Se aconchegou no abraço que era o seu lar. Tudo estava certo de novo. A órbita das coisas pareciam se encaixar novamente e a sensação de epifania a dominava. E sei lá como ou porquê, ela não precisou dizer nada. Ele sabia. Ele já sabia de tudo antes mesmo dela saber.

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