13 junho 2013

Pra não dizer que não falei das flores

Você bateu a porta do carro com tanta força que cheguei a dar um solavanco pra trás. Acho que eu nunca te vi tão irado como naquele dia.  Numa velocidade realmente preocupante vi seu carro virando a esquina, não consegui pensar em muita coisa, só torcia para que nada acontecesse com você na estrada.
Virei-me para a porta com certo peso no coração, daqueles  que se tem quando deixamos alguém que amamos mal. Mas com um paz de espírito, uma leveza na consciência inimaginável. Eu sei que isso é um grande paradoxo, mas amar e não ser amado também é. E pior ainda ser amado e não amar.
Sabe meu bem, a sala ficou meio vazia sem você e suas pernas que ocupavam quase a metade do sofá. Você esqueceu seu videogame e eu nem ao menos sei se você vai voltar pra buscar.
Sei bem que nada que eu falasse naquele instante faria algum sentido pra você, mas sentada no sofá, naquele onde já tivemos várias noites mal dormidas, eu conclui que não poderia ter sido diferente. Você foi a melhor pessoa que eu já conheci.  Você me fazia bem e como fazia. Eu sabia que tinha sorte em ter você comigo, mas do que vale a sorte quando falta o amor? Talvez você não entenda agora, mas é que não podia continuar vivendo um amor que não era meu. Eu não podia ser tão covarde com você a ponto de forçar um sentimento. Você era uma pessoa boa, não me merecia. E nem eu te merecia, porque não éramos feitos um pro outro. Você me amou e por isso lhe sou grata, mas o que eu poderia fazer com o vazio que aqui dentro tinha? Você fazia planos, projetos para o futuro. Casamento na igreja do bairro, uma casa no lado, viagem à Paris, um Dálmatas e 3 filhos. Eram sonhos tão lindos, mas eram sonhos seus. Eu não gosto de cachorros, quero ter só 1 filho e troco Paris por Cancun. Você conhecia o que eu deixava você conhecer, mas no fundo eu era alguém que você nunca teve a oportunidade de ver. É que eu era meio minha e de mais ninguém.
Por fim, ambos sabíamos que este dia chegaria, mas por conformismo íamos adiando, mal sabíamos que ao prolongar o adeus, acabamos por prolongar o sofrimento. Talvez agora seja tarde para desfazer as amarras e dores que fizemos um ao outro, fizemos não por falta de amor, mas por não saber amar. A gente pegou isso que nos impuseram e fizemos algo belo, mas não nos perdemos, não nos deixamos levar, não nos amamos. E amor é isso, é perda. Como dizia Camões: “Contentamento descontente, dor que desatina sem doer.” Você amava o que eu lhe mostrava e eu amava parte de você, era um relacionamento de metades. E dia desses eu cai da cama e percebi que gosto mesmo é de inteiros.

Então vai. Vai em paz, vai que ficar dói. Eu também vou, adeus.

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