Ela tinha os olhos pairados sobre um livro de capa chamativa,
um emaranhado de linhas e pontos que dava uma noção de universo. Seus óculos no
estilo geek escorregavam pelo nariz pontiagudo e seu cabelo estava preso em um
perfeito coque desarrumado. Seu rosto era bem alinhado, suas sardas eram quase
inotáveis. Era dessas meninas que você teria o prazer de esbarrar por aí e lhe
pagar um sorvete.
Sua feição transbordava de um aspecto curioso, envolta em
seu livro parecia quase que era parte da história e vez ou outra esboçava
alguma expressão. Eu, mero espectador de
suas feições, poderia ao certo me envolver na história disposta de tanta graça.
Eu estava a apenas dois bancos de distância e havia um
assento livro ao seu lado, mas pra quem não tem coragem dois bancos é quase
duas léguas. Curioso o fato dela não ter se sentado a janela, qualquer um faria
isso. Eu poderia perguntar isso, mas seria um péssimo início de conversa.
Poderia elogiar seu cabelos mais pareceria apenas mais um tarada do coletivo. O
livro! Claro, eu perguntaria sobre o livro. Mas que pergunta? A capa era um
tanto sugestiva, mas poderia se tratar de qualquer coisa, física quântica,
CERN, cosmologia, astrologia, astronomia ou então só um brinde dessas revistas
femininas.
Enquanto continuava neste meu diálogo interno, ela folheava
as páginas com uma sutileza digna de uma dama. E seus olhos negros, sempre
atentos as letras miúdas, pareciam ser espelhos, desses que a gente consegue se
ver e ver um outro alguém do lado. Então ela parou. Parou e se entregou a
devaneios, olhou para a janela e parecia que tinha tido um daqueles insights ou
então uma grande epifania. No que será que ele pensava? Será que pensava algo
sobre a teoria dos neutrinos? Questionava a relatividade ou apenas lembrar que esqueceu
o ferro ligado? Foi quando então consegui ler o título do livro:”Os universos”
. Isso me fez ficar curioso, no que será que ela estava pensando? O que será
que ela conseguiu ler nas entrelinhas? Garota interessante. Parecia dessas que
te rendem um bom papo, uma risada gostosa e 3 filhos.
Eu não podia contar com a sorte, o ônibus estava quase em
seu ponto final. “5 segundos de coragem”_pensava.
Então eu fui, me sentei e devo ter falado a coisa mais
idiota da minha vida.
“Se o universo fosse um vestido, qual você usaria hoje?”
“Não entendi o que você quis dizer.”
“Nem eu, mas acho que seria um bom título para alguma
coisa.”
Ela esboçou um sorriso discreto desses que a gente faz
quando acha algo estupidamente fofo. E depois do sorriso, eu soube. Sei lá
como, nem o Cosmos é capaz de explicar isso.
Mas eu soube que não importava quantos universos existissem, o meu caberia perfeitamente nela.
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