20 setembro 2013

Overdose

Não foi numa noite de sábado, após uma festa, no banheiro e com a maquiagem borrada. Foi numa tarde de domingo, quando você me metralhou com aquelas palavras que pareceram perfurar alguma parte do meu pulmão porque eu juro, meu bem, eu juro que fiquei uns minutos sem ar.
Você foi um canalha da pior categoria, mas eu não posso reclamar de nada, porque eu sabia. Eu sempre soube e você não fazia questão de esconder, pelo contrário, fazia-me lembrar a cada momento.  Sempre soube que a gente não combinava, sempre soube que você era meio lá e eu meio cá. Mas eu quis me enganar. Tomei pra mim esse amor inventado, idealizado, que só existia no meu faz de contas frustrado. Talvez muitos me achem sadomasoquista, mas não é bem assim. Eu só alimentei uma expectativa furada de que um dia você visse o melhor de você em mim, que você fosse acordar no meio da noite, assim como num estalo e perceber que iria me amar pra sempre. Eu depositei sobre seus ombros uma felicidade que era minha e justamente por ser minha, o papel de encontrá-la era incumbido a mim e não a você.
E pode parecer contraditório, mas quanto mais você se afastava, mais eu te queria. Alguém pode me dizer que merda de sentimento é esse? Era como droga, isso! Droga. Você era meu vício e eu sabia que me fazia mal, que como num efeito lúdico ao estar do seu lado o universo parecia estar perfeitamente alinhado, mas isso só durava até você ir embora e me deixar na esquina da minha casa como se nada tivesse acontecido, como se a gente não tivesse acontecido.. Mas eu me contentava, eu me contentava com as migalhas e sobras que você deixava. Com o pouco que você podia me oferecer, mesmo que eu passasse o resto da noite chorando no travesseiro como uma perfeita idiota. Mesmo que eu passasse o restante da noite  fazendo a mim mesma promessas vazias de que nunca mais te veria e no minuto seguinte te mandar um SMS. 
Dependência de você. Você foi meu vício e o pior deles. Eu me perdi, me perdi e como foi difícil me reencontrar. Todos me avisavam que eu deveria parar, que você não era meu remédio, era meu fardo. E o pior foi que eu criei isso tudo. Você não pediu pra eu me apaixonar, você nem ao menos fazia questão de ser agradável ao meu lado. Eu fantasiei tudo, eu fui seguindo seus rastros e esqueci-me de marcar os meus. 
O seu erro meu bem, o seu único erro foi sempre voltar. Você me dava doses mínimas de você e eu  sempre queria mais. Você deveria ter parado de me ligar na sexta à noite, deveria ter devolvido a chave do meu flat, me excluído das redes sociais, da lista do Black Berry e evitar qualquer sinal de fumaça que eu  tentasse fazer pra me comunicar com você.Você só deveria ter sumido e me deixado entrar em abstinência. Eu iria me desintoxicar de você, não te ver seria minha reabilitação. Você deveria ter dado o basta que eu não conseguia dar, você demorou demais. Delongou o adeus e prolongou meu sofrimento, mesmo sabendo que não daria em nada.
Não foi numa noite de sábado, após uma festa, no banheiro e com a maquiagem borrada. Foi numa tarde de domingo, na sacada da varanda que eu me desintoxiquei de você. Depois das palavras metralhadas, da porta fechada e de algumas lágrimas no assoalho eu respirei fundo, como se buscasse todo ar que poderia haver nos meus pulmões. Esses mesmos que você havia perfurado minutos antes. Mas se você sabe o que é isso, se já passou a noite toda acordado e chorou até acabarem as lágrimas. Então sabe que, no fim, desce sobre a gente uma grande calma. Chegamos até a ter a sensação de que nada mais nos poderá acontecer. E foi exatamente aí que eu abri os olhos e em súbito conclui que já era chegada a hora daquela overdose acabar.



Nenhum comentário:

Postar um comentário

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...