17 novembro 2013

Só sei dançar com você

Você me encarou de longe, andou até a minha direção e me tirou pra dançar repleto de segundas intenções. Na verdade, eu sempre me perguntei o porquê de você ter feito isso, mais tarde você diria que foi por causa do meu sorriso. Que alguém que tivesse um sorriso daqueles no mínimo se encaixaria perfeitamente no seu álbum de casamento. Eu lembro bem de todos olhando quando você me levou ao centro da pista, sem cerimônias. Me fez ser o centro das atenções, quando na verdade só a sua parecia bastar. 
A música seguia numa melodia marcada a qual não obedecemos. Nós dançávamos. Mas dançávamos uma música nossa, uma música de dentro pra fora. Que fazia dos passos uma sintonia que ia muito além das notas.
Você não pisou no meu pé, apesar de eu ter te dado algumas joelhadas. Você me girava e rodopiava e vez ou outra parava pra sussurrar no meu ouvido qual era o acorde que o tecladista tocava. Você sabia que eu não entendia nada daquilo, mas era só uma desculpa para ficar mais perto de mim.
A música parou, mas parece que dentro de nós continuou. Saímos da pista em silêncio, ou melhor, cantávamos por dentro. Você me pagou uma bebida no bar, conversamos sobre seu país, sua família, seu dálmata e sobre como o dólar tinha caído nos últimos meses. Você era transparente, com o mundo e consigo mesmo. Você era só você e de um jeito único que dava vontade de pedir bis de tudo aquilo.  
Os garçons começavam a tirar a mesa e percebemos que era hora de ir embora, por mim eu continuaria ali. Ouvindo você falar sobre tudo e nada, só pra poder te olhar por mais alguns minutos.
Você disse que era músico, deu um bom sermão sobre a desvalorização da profissão e disse que não tinha dinheiro pro táxi. Mas ainda sim, tirou as únicas três notas que tinha e pagou uma volta pra mim. Eu quis recusar, mas você disse qualquer coisa que eu não consegui nem ao menos falar. 
Eu voltei naquele lugar outras vezes, na esperança de te encontrar. Mas foram noites vazias e nenhum daqueles rostos bonitos se parecia com você. Eu tentei encontrar outros pares, dancei outros passos. Mas seja lá onde você estiver, eu queria que você soubesse que eu não sei dançar sem você. Eu só sei dançar a nossa música e ela não toca com mais ninguém.
Eu deveria ter pedido seu telefone, seu endereço, mesmo que fosse do outro lado do Atlântico. Sei lá o que eu deveria ter feito, mas eu deveria ter feito mais, quem sabe você poderia me deixar uma noite, um sorriso matinal e uma vida? Ao invés disso, você me deixou uma música. Uma música que por mais que eu me esforce para dançar um solo ou com outrem, eu só sei dançar com você.

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