Você me encarou de longe, andou até a minha direção e me tirou pra dançar repleto de segundas intenções. Na verdade,
eu sempre me perguntei o porquê de você ter feito isso, mais tarde você diria
que foi por causa do meu sorriso. Que alguém que tivesse um sorriso daqueles no
mínimo se encaixaria perfeitamente no seu álbum de casamento. Eu lembro bem de todos olhando quando você me levou ao
centro da pista, sem cerimônias. Me fez ser o centro das atenções, quando na
verdade só a sua parecia bastar.
A música seguia numa melodia marcada a qual não
obedecemos. Nós dançávamos. Mas
dançávamos uma música nossa, uma música de dentro pra fora. Que fazia dos
passos uma sintonia que ia muito além das notas.
Você não pisou no meu pé, apesar de eu ter te dado algumas
joelhadas. Você me girava e rodopiava e vez ou outra parava pra sussurrar no
meu ouvido qual era o acorde que o tecladista tocava. Você sabia que eu não entendia nada
daquilo, mas era só uma desculpa para ficar mais perto de mim.
A música parou, mas parece que dentro de nós continuou.
Saímos da pista em silêncio, ou melhor, cantávamos por dentro. Você me pagou
uma bebida no bar, conversamos sobre seu país, sua família, seu dálmata e sobre
como o dólar tinha caído nos últimos meses. Você era transparente, com o mundo e consigo
mesmo. Você era só você e de um jeito único que dava vontade de pedir bis de
tudo aquilo.
Os garçons começavam a tirar a mesa e percebemos que era
hora de ir embora, por mim eu continuaria ali. Ouvindo você falar sobre tudo e
nada, só pra poder te olhar por mais alguns minutos.
Você disse que era músico, deu um bom sermão sobre a
desvalorização da profissão e disse que não tinha dinheiro pro táxi. Mas ainda sim, tirou as únicas três notas que tinha e pagou uma volta pra mim. Eu quis
recusar, mas você disse qualquer coisa que eu não consegui nem ao menos falar.
Eu voltei naquele lugar outras vezes, na esperança de te
encontrar. Mas foram noites vazias e nenhum daqueles rostos bonitos se parecia com você. Eu
tentei encontrar outros pares, dancei outros passos. Mas seja lá onde você
estiver, eu queria que você soubesse que eu não sei dançar sem você. Eu só sei
dançar a nossa música e ela não toca com mais ninguém.
Eu deveria ter pedido seu telefone, seu endereço, mesmo que
fosse do outro lado do Atlântico. Sei lá o que eu deveria ter feito, mas eu
deveria ter feito mais, quem sabe você poderia me deixar uma noite, um sorriso matinal e uma vida? Ao invés disso, você me deixou uma música. Uma
música que por mais que eu me esforce para dançar um solo ou com outrem, eu só sei dançar com você.
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