11 janeiro 2014

(Sobre)viver


Dia desses, em meio a devaneios, parei para analisar a concepção que a maioria das pessoas têm da vida, ou disso que elas chamam de vida. A tratam como um fardo, quando na verdade é uma dádiva.
Tem tanta gente por aí sobrevivendo, achando que o viver em si é muito custoso. E eu não falo dos andarilhos, dos indigentes, dos desprovidos de oportunidades, daqueles que enfrentam doenças terminais ou que lhe faltam o fôlego da plenitude; não falo destes porque em muitos eu consigo enxergar a luta pela vida e a não desistência, mesmo que estejam rodeados de desculpas e condições que, porventura, poderiam embasar esta posição. Eu falo aqui de você que, aparentemente, é despido de motivos para qualquer reclamação.

Eu não quero medir problemas, nem o que eu julgo ser importante ou não. Cada um tem um mundo dentro de si e sabe exatamente suas limitações e fragilidades. Também não quero provar ou comprovar a capacidade de resiliência de ninguém, só queria que ao menos uma palavra desta dissertação lhe fizesse refletir sobre como você tem vivido. Isso aqui está bem longe de ser um texto hipócrita ou detentor da verdade, quero que saiba que antes de escrever cada letra, fui confrontada comigo mesma e com os meus próprios monstros, ou ao menos os que eu julgava ser.
Sobre a afirmação que fiz no primeiro parágrafo, gostaria de deixar bem claro que não é o viver que é custoso, mas as próprias pessoas que o fazem ser. A que estamos a mercê? A que ou a quem se deve nosso riso? Nossa alegria? O que esperamos para achar um dia bom, ou que expectativas depositamos em coisas supérfluas? Ao que estamos dando valor e onde estão as nossas prioridades? Talvez, e só talvez, muitos apenas sobrevivam porque não entenderam a magnitude e ao mesmo tempo a simplicidade da vida.

A felicidade e plenitude não deve ser um estado condicionado as nossas escolhas e situações vividas. Deve ser algo intrínseco e permanente, que vez ou outra pode correr o risco de uma turbulência, mas não cai. Assim como árvores, que passam por estações, por mudanças, por épocas em que nem suas folhas são possíveis de se ver e outras onde seus frutos e flores são exorbitantes. Mas estão ali, firmes. Sempre ali.
Talvez vivamos nessa constante inconstância pois nossas raízes não são profundas, nos deixamos levar pela primeira brisa que bate. Onde estão os nossos alicerces? Aonde estão fincadas nossas raízes?
Não quero promover uma vida cor de rosa com purpurina e confete, onde é festa todo dia e risos resplandecem. Isto é utopia. Falo de uma postura, de uma decisão. De desenvolver uma sensibilidade e humanidade tamanha, que mal algum tire a sua paz. Isso não é tarefa fácil, eu mesma levei muito tempo para compreender isso e tenho plena consciência de que ainda me falta percorrer um longo caminho. Mas a essência de tudo, em minha opinião, está onde você se apoia, está no que te sustenta. A vida é como uma casa e não é preciso ser nenhum arquiteto ou engenheiro para saber que se a construirmos em terreno com muito declínio, se a alicerçamos em isopor, a tendência é cair. A tendência é viver de migalhas, a tendência é simplesmente a desistência, é se apoiar em cacos e viver em pedaços.

E (sobre)viver, aceite o clichê. Perceba as pequenas coisas, os pequenos gestos. Dê importância a momentos com pessoas queridas, aprecie o silêncio e o ouça. Busque algo que o transcenda, para que você possa se conhecer. O auto-conhecimento gera uma necessidade de mudança, um reconhecimento da própria mesquinhez e hipocrisia. Experimente não reclamar, não se irritar por coisas irrelevantes, a ler um livro clássico, assistir um filme bobo. Acorde um dia e não faça nada, se desligue. Encontre os amigos, diga "eu te amo" para um desconhecido, abrace sem que lhe peçam, apenas sinta.
Não perca a sua vida tentando ganhá-la, a cada dia basta o seu mal. Se destaque no meio dessa sociedade doente, faça a diferença. A existência é preciosa demais para se confinar a um cárcere, saia da margem da sobrevivência e deixe que a sua vida encha-se, de vida.

Texto inspirado no livro "O vendedor de Sonhos - A Revolução dos Anônimos" de Augusto Cury.

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