24 abril 2015

Nós nunca existimos

A cada hora que eu passo trancada dentro do quarto, imagino com quantas você já foi pra cama. A cada lágrima que cai do meu rosto fazendo uma pequena poça ridícula no travesseiro, eu sinto raiva. Não raiva de você, isso não é novo pra mim. É uma raiva estampada de inveja por você conseguir fingir que nada aconteceu. Não que eu fosse transar com meio-mundo, eu e você sabemos que isso não ia rolar, mas eu só queria ter essa mesma cara de pau de fingir que nós não acontecemos. Isso seria ótimo! Isso seria melhor do que estar no terceiro pote de nutella.
Eu sei que é meio demodé essa coisa de sofrer por amor e disso ser culturalmente atribuído ao gênero feminino, mas eu não quero culpar a sociedade ou os meus pais por me fazerem acreditar em um príncipe ou por eu estar aqui há 12 horas quase tendo uma overdose de nutella. Fico pensando como seria o caso clínico e o que o médico falaria quando eu chegasse ao hospital. "Overdose" de que? "De amor."
É isso, eu te amo demais pra te deixar. Eu sei que tem aquela história bonita de que quando a gente ama a gente deixa ir, e o que é nosso volta, bla, bla, bla. Fico pensando quantas vezes Bob Marley foi chifrado pra escrever isso, coitado, eu também desistiria se fosse ele. Mas como eu não sou, tô aqui ferrada, tentando imaginar o que eu faço com tudo que sobrou. Fico pensando nas lembranças que insistem em me invadir, sem pedir licença e por pura sacanagem só me trazem as coisas boas. Ele era idiota pra cacete! Vai, garota, lembra disso. Lembra que ele nunca era ele com você, que na frente dos amigos ele parecia caçoar de todas as coisas que você dizia, como se você fosse a menina ingênua que não tem experiência da vida. Lembra que você era sempre segunda opção diante do ego dele, lembra que, que... Que aquele corte de cabelo era ridículo, que aquele sorriso era lindo, mas não era seu, nunca foi. Pronto, lembrei dos defeitos, ou só daqueles que minha mente me permitiu lembrar, e aí? E agora? Ainda dói. Não valeu de nada.

Nós dois sabíamos que o término seria inevitável, a gente discutia sempre e quando não, eu sempre tinha que ceder e engolir meu orgulho. Sempre eu. E olha, eu nem sei por que a gente insistiu, talvez porque eu gostasse da sua família, apesar de você ser um filho da mãe, a sua mãe é a melhor pessoa que eu já conheci na vida. Ou porque você achava que me amava, eu digo achava porque ninguém sente uma coisa e faz outra e você fazia tudo, meu bem, menos demonstrar amor.
Com o tempo eu vou me conformar, vai passar. E essa é a minha única certeza agora. Mas eu queria te perguntar como é que você faz pra fingir que a gente não se conheceu? Fingir que não foi nada. Como é que você consegue passar pela sorveteria da esquina, pedir flocos com cobertura de hortelã e não lembrar de mim e de que eu te ensinei a gostar desse sabor? Lembra que foi eu que te ensinei o sabor de muitas coisas, quem sabe até da vida? Será que ao beijar outra você não lembra de como nosso beijo se encaixava perfeitamente? Me fala, por favor, me fala! O que você fez com a aliança? Ou melhor, como você se desfez dela? Numa daquelas cenas dramáticas ao mar? Simplesmente jogou no lixo? Ou quem sabe ainda usa por aí? A minha tá aqui, na cabeceira, me encarando, me encarando com todas as promessas que com ela foram feitas. Meu bem, por favor, me diz como você faz pra fingir que a gente não existiu? Talvez seja isso. Nós nunca existimos, fui eu, eu que nos inventei.

Um comentário:

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