30 março 2013

5 Doses de Vodka


Início de festa, bons boleros dos anos noventa alternando com
clássicos do rock brasileiro de meados de oitenta no som só para não
assustar a galera, gente bonita chegando à todo instante, apartamento
lotando e eu estava ali debruçada no cantinho do bar room com minha
primeira dose de vodka dispensando os idiotas que não podem ver uma
mulher bonita sozinha que já acham que vai rolar alguma coisa.

Estava esperando o apartamento encher só mais um pouquinho para ver se
me animava de ir dançar lá no centro da sala e, enquanto isso, as
horas iam passando a medida que eu ia lembrando das vezes que tentei
te ensinar a dançar.
Você, um descompassado danado, só conseguiu aprender os passos
quadradissimos do bolero.
Morria de rir.
Sempre tão pangaré e descoordenado, conseguia, ainda assim, me fazer
dançar com você e sorrir.

Mais uma pequena dose de vodka para entrar na vibe e lá fui eu para o
centro da sala sem você.
Todos ali poderiam me ver sorrindo e dançando mas nem desconfiariam da
dor que eu carregava no peito, a dor de estar cercada de gente mas não
ter pelo menos um amigo sincero igual a você, meu bem.
E agora?
Cadê você que não atendeu meus telefonemas?

De All Star preto surrado e calças jeans batidas que você afirmou
serem confortáveis, camisa com o nome de alguma cidade comprada em tua
viagem à qualquer lugar e barba por fazer.
É assim que fiquei imaginando você aqui nessa festa em meio a tantas
roupas de marca, perfumes caros e barbas bem feitas depois que bebi a
terceira dose.
E, falando sério, penso aqui até agora comigo que ainda assim você
seria o homem mais bonito nesse apartamento.

A vodka só me ilude sabe por quê?
Quem me faz sorrir é você.
Mas fui tomar uma quarta só para me diluir nessa música do Paralamas
do Sucesso que estava tocando ainda à pouco.
Juro que é a última dose pois à uns minutos atrás eu me senti um pouco tonta.

Me questionava o porquê de você não ter vindo.
Eu compraria uma pólo para você, jeans novos e um par de pisantes bem maneiro.
Logo desfiz a questão.
Não faria a maldade de trazer você para cá comigo.
Sei que aqui não é o teu lugar.
Não mesmo.
Olhando assim, sentindo até falta de você, vejo que talvez não seja
mais meu o meu lugar também.
Depois de ter conhecido teus pais e a tua família, acho que, mesmo com
todos os meus vícios e manias, encontrei um lugar simples e justo no
mundo.
E acho que estou me apegando levemente aos teus braços também, meu bem.

Ôpa.
Deixa eu te contar.
O dono da festa me chamou para dançar logo quando eu cheguei.
Nós sabemos bem o que ele queria não é?
Coitado dele.
Estava se achando então eu mandei logo ele tirar o cavalinho da chuva, pobre.
O mal do esperto é achar que todo mundo é bobo e esse malandro estava
achando que eu sou boba, que sou essas meninas que se encontram em
qualquer esquina.
Olha que quando ele veio com a farinha, o meu bolo já estava pronto, rapaz!
E diz?
Para quê outro homem se eu tenho você?

Olha moço, colocaram um reggae para tocar ali dentro só para variar.
Acho que é aquela música do Cidade Negra que você tanto gosta.
Por isso vim aqui para fora só para arejar as idéias.
Aproveitando que larguei a festa vou puxar meu bonde e ir para casa.
Te liguei para ver se você podia vir me buscar mas o telefone só
chamou, daí deixei essa mensagem na caixa postal.
Querendo pode passar lá em casa amanhã de manhã.
Acho que eu vou precisar da tua ajuda por causa do porre de vodka que
eu estou tomando essa noite.
Esse é o meu último porre, juro.
Não vou deixar mais os meus conflitos internos e externos estarem no
meio da gente de novo.
Fora que já estava na hora de eu parar com essa droga de vodka.

Espera aí!
Esquece tudo que eu falei!
Só me faz esses três favores que eu vou te pedir, ok?
Primeiro, faça a gentileza de, amanhã, não me lembrar dos convites,
promessas e confissões que eu fiz para você.
Eu estou muito bêbada hoje.
Segunda, me retorne logo que puder e antes da festa acabar.
Finalmente, terceira e última.
Faça o favor de, como não vou poder dirigir hoje, me lembrar de vir
aqui, comigo, buscar o meu carro amanhã porque, quando amanhecer, eu
não vou me lembrar que deixei ele aqui.
Agora deixa eu desligar, que eu tenho que chamar um táxi depois dessa
quinta dose de vodka.
Até.
Baruck, Guilherme.

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