Início de festa, bons boleros dos anos noventa alternando com clássicos do rock brasileiro de meados de oitenta no som só para não assustar a galera, gente bonita chegando à todo instante, apartamento lotando e eu estava ali debruçada no cantinho do bar room com minha primeira dose de vodka dispensando os idiotas que não podem ver uma mulher bonita sozinha que já acham que vai rolar alguma coisa. Estava esperando o apartamento encher só mais um pouquinho para ver se me animava de ir dançar lá no centro da sala e, enquanto isso, as horas iam passando a medida que eu ia lembrando das vezes que tentei te ensinar a dançar. Você, um descompassado danado, só conseguiu aprender os passos quadradissimos do bolero. Morria de rir. Sempre tão pangaré e descoordenado, conseguia, ainda assim, me fazer dançar com você e sorrir. Mais uma pequena dose de vodka para entrar na vibe e lá fui eu para o centro da sala sem você. Todos ali poderiam me ver sorrindo e dançando mas nem desconfiariam da dor que eu carregava no peito, a dor de estar cercada de gente mas não ter pelo menos um amigo sincero igual a você, meu bem. E agora? Cadê você que não atendeu meus telefonemas? De All Star preto surrado e calças jeans batidas que você afirmou serem confortáveis, camisa com o nome de alguma cidade comprada em tua viagem à qualquer lugar e barba por fazer. É assim que fiquei imaginando você aqui nessa festa em meio a tantas roupas de marca, perfumes caros e barbas bem feitas depois que bebi a terceira dose. E, falando sério, penso aqui até agora comigo que ainda assim você seria o homem mais bonito nesse apartamento. A vodka só me ilude sabe por quê? Quem me faz sorrir é você. Mas fui tomar uma quarta só para me diluir nessa música do Paralamas do Sucesso que estava tocando ainda à pouco. Juro que é a última dose pois à uns minutos atrás eu me senti um pouco tonta. Me questionava o porquê de você não ter vindo. Eu compraria uma pólo para você, jeans novos e um par de pisantes bem maneiro. Logo desfiz a questão. Não faria a maldade de trazer você para cá comigo. Sei que aqui não é o teu lugar. Não mesmo. Olhando assim, sentindo até falta de você, vejo que talvez não seja mais meu o meu lugar também. Depois de ter conhecido teus pais e a tua família, acho que, mesmo com todos os meus vícios e manias, encontrei um lugar simples e justo no mundo. E acho que estou me apegando levemente aos teus braços também, meu bem. Ôpa. Deixa eu te contar. O dono da festa me chamou para dançar logo quando eu cheguei. Nós sabemos bem o que ele queria não é? Coitado dele. Estava se achando então eu mandei logo ele tirar o cavalinho da chuva, pobre. O mal do esperto é achar que todo mundo é bobo e esse malandro estava achando que eu sou boba, que sou essas meninas que se encontram em qualquer esquina. Olha que quando ele veio com a farinha, o meu bolo já estava pronto, rapaz! E diz? Para quê outro homem se eu tenho você? Olha moço, colocaram um reggae para tocar ali dentro só para variar. Acho que é aquela música do Cidade Negra que você tanto gosta. Por isso vim aqui para fora só para arejar as idéias. Aproveitando que larguei a festa vou puxar meu bonde e ir para casa. Te liguei para ver se você podia vir me buscar mas o telefone só chamou, daí deixei essa mensagem na caixa postal. Querendo pode passar lá em casa amanhã de manhã. Acho que eu vou precisar da tua ajuda por causa do porre de vodka que eu estou tomando essa noite. Esse é o meu último porre, juro. Não vou deixar mais os meus conflitos internos e externos estarem no meio da gente de novo. Fora que já estava na hora de eu parar com essa droga de vodka. Espera aí! Esquece tudo que eu falei! Só me faz esses três favores que eu vou te pedir, ok? Primeiro, faça a gentileza de, amanhã, não me lembrar dos convites, promessas e confissões que eu fiz para você. Eu estou muito bêbada hoje. Segunda, me retorne logo que puder e antes da festa acabar. Finalmente, terceira e última. Faça o favor de, como não vou poder dirigir hoje, me lembrar de vir aqui, comigo, buscar o meu carro amanhã porque, quando amanhecer, eu não vou me lembrar que deixei ele aqui. Agora deixa eu desligar, que eu tenho que chamar um táxi depois dessa quinta dose de vodka. Até.
Baruck, Guilherme.
30 março 2013
5 Doses de Vodka
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